Por: Jonas Augusto Martins de Carvalho
Apesar da maioria das locomotivas do parque de tração da RMV ser de origem norte-americana - leia-se Estados Unidos – houve uma parcela de locomotivas inglesas e alemãs. Neste artigo, serão abordadas as locomotivas de procedência germânica.
Foram quatro os fabricantes que forneceram essas locomotivas, direta ou indiretamente, como será abordado adiante. Estes são: Berliner Maschinenbau Actien-Gesellschaft vormals Louis Schwartzkopff, o qual por razões óbvias iremos nos referir ao longo do texto somente como Schwartzkopff; Kraus & Cia; J.A. Maffei e Henschel & Sohn.
Em 1912, a então Rede Sul Mineira - RSM adquiriu nove 2-8-0’s junto ao fabricante Schwartzkopff , numeradas de 210 a 218. Em 1939, as locomotivas foram renumeradas como 402 a 410, já na RMV. Em 1913, foram adquiridas mais quatro 2-8-0’s, que no entanto foram entregues diretamente a Estrada de Ferro Central do Brasil - EFCB provavelmente devido à algum acerto de contas entre as duas ferrovias. Posteriormente na EFCB elas vieram a receber os números 1221 a 1224, sendo transferidas à Rede Ferroviária do Nordeste - RFN por intermédio do Departamento Nacional de Estradas de Ferro - DNEF em 1955. Em 1922, mais cinco unidades idênticas foram adquiridas, numeradas de 250 a 254, que na RMV receberam os números de 411 a 415. Dessas locomotivas, infelizmente nenhum exemplar foi preservado.
- Locomotiva n° 402, ex nº 210. Foto: Acervo ABPF/NEOM
A RSM adquiriu em 1919 uma pequena locomotiva do fabricante Krauss & Cia., rodagem 0-8-0T numerada como 240. Com a renumeração geral das locomotivas pela RMV em 1939 ela recebeu o número 154. Esta locomotiva não foi preservada.
Em 1920, a RSM adquiriu de “terceira mão” duas locomotivas tipo Mallet da Companhia de Mineração Santa Matilde, que por sua vez já as havia adquirido de “segunda mão” da Rhatische Bahn (Ferrovia Rética) na Suécia.Estas locomotivas foram fabricadas pela J.A. Maffei em 1891. Na RSM, receberam os números 241 e 242. Após a formação da RMV (Rede Mineira de Viação) em 1931, as duas 2-4+4-0 foram renumeradas como 331 (Sul) e 330 (Sul). Em 1939 apenas a n°330 recebeu o número 156 de acordo com o novo padrão de numeração das locomotivas. Nenhuma dessas locomotivas foi preservada.
- Locomotivas n° 330 e 241. Foto: Photo Abrahão, acervo ABPF/NEOM
Já em 1925, a RSM adquiriu junto a Schwartzkopff duas 2-8-2, numeradas como 280 e 281, que ainda na RSM foram renumeradas como 310 e 311; na RMV se tornaram as nº 501 e 502. Seis 4-6-2 foram adquiridas neste mesmo ano, numeradas de 263 a 268, que na RMV eram as 304 a 309. A número 307 foi a única preservada dessas locomotivas, estando hoje na rotunda de São João del-Rei.
- Locomotiva n° 280, depois nº 310, por fim nº 501. Foto: Schwartzkopff, acervo ABPF/NEOM
Nova encomenda à Schwartzkopff em 1926, dessa vez foram três 2-8-2 numeradas de 284 a 286, ainda na RSM renumeradas de 312 a 314 e finalmente na RMV 503 a 505, e mais três 4-6-2 recebendo a numeração 269 a 271, na RMV 310 a 312. Dessa série adquirida em 1926, somente a RMV 505 foi preservada, e hoje está operacional na VFCJ-ABPF em Campinas-SP.
- Locomotiva n° 312, ex nº 271 em Três Corações, anos 1970. Foto: Acervo ABPF/NEOM
Em 1927 a Schwartzkopff forneceu dez 2-8-2, numeradas de 315 a 324, na RMV 506 a 515. Adquiriu-se também cinco 4-6-2, numeradas de 272 a 276. Como a RSM possuía linhas “montanhosas”, o tipo 4-6-2 “Pacific” não era o ideal, tendo então a RSM vendido as números 273, 274, 275 e 276 à Oeste de Minas. Quando da renumeração da RMV em 1939, essas quatro locomotivas como eram da EFOM receberam os números inicias da série das 4-6-2, ficando então como 300, 301, 302 e 303. A única das 4-6-2 1927 que ficou na RSM se tornou a 313. Infelizmente nenhuma dessas locomotivas foi preservada.
- Locomotiva n° 506, ex nº 315 no abastecimento de óleo em Itajubá, anos 1950. Foto: Carlheinz Hahmann, acervo ABPF/NEOM
A antiga Estarda de Ferro Paracatu – EFP – adquiriu em 1930 uma pequena 2-8-2 junto à Schwartzkopff, a qual recebeu o nº 60. Quando esta ferrovia foi incorporada à Oeste de Minas, essa locomotiva recebeu o n° 256. Em 1939 com a definição do padrão de numeração da RMV, esta locomotiva recebeu o n° 500.
- Locomotiva n° 60, depois nº 256, por fim nº 500. Foto: Schwartzkopff, acervo ABPF/NEOM
Já em 1946, a RMV recebeu em troca de sete carros de passageiros com a Estrada de Ferro Vitória a Minas – EFVM três locomotivas tipo 2-8-2 “Mikado” fabricadas pela Henschel & Sohn em 1937. Já na RMV, seguindo o padrão de numeração das locomotivas, estas vieram a receber os números 527, 528 e 529, onde foram aproveitadas nos trens de calcário com destino às Siderúrgicas de Barra Mansa e Volta Redonda. Infelizmente, nenhum exemplar destas locomotivas foi preservado.
- Locomotiva n° 152 EFVM, depois nº 528 RMV. Foto: Henschel & Sohn, acervo ABPF/NEOM
Portanto, no total a RMV possuiu cinqüenta locomotivas de procedência alemã, sendo quarenta e quatro Schwartzkopff, três Henschel & Sohn, duas J.A. Maffei e uma Krauss; sendo que as Henschel e as J.A. Maffei foram adquiridas de segunda e terceira mãos. De todas essas locomotivas, apenas uma 4-6-2 (RMV 307) e uma 2-8-2 (RMV 505) foram preservadas. Obs.: não foram consideradas aqui as 4 2-8-0"s de 1913, pois as mesmas foram recebidas pela EFCB, nunca tendo chegado a RMV.
- Locomotiva n° 307, ex nº 266 preservada na rotunda de São João del-Rei. Foto: Acervo ABPF/NEOM
- Locomotiva n° 505, ex nº 314, original n° 286 mantida em operação pela ABPF em Campinas/SP. Foto: Acervo ABPF/NEOM